Quando o produto não é para o usuário, ele se torna trágico para ele.
- Bianca Correia
- 25 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de ago.

Você já tentou perguntar para sua equipe o que faz um Product Designer?
Se perguntar para um PM, dev, QA, data, marketing… é provável que cada um diga uma coisa diferente. Mas quase todas as respostas vão orbitar a mesma ideia: criar a melhor experiência possível para o usuário.
Mas o que isso realmente significa?
Pra mim, o papel de um Product Designer se resume a uma coisa só:
Ser o representante do usuário dentro da empresa.
Ferramentas, processos, frameworks, sistemas de design… nada disso importa
se não resultar em algo que facilite, de verdade, a vida do usuário dentro do contexto do produto.
No livro Tragic Design - The True Impact of Bad Product Design and How to Fix It, fala o seguinte:
Bad designs are the ones that collide with human behaviors and cause undesired friction. When we create things without the end users in mind (or with some vague sense of them as customers), we almost always end up creating bad designs. Badly designed products serve their creator (or sponsor) first and the users second.
Essa perspectiva faz total sentido. Não se trata de dizer que os stakeholders não sabem o que estão fazendo — seria ingênuo pensar assim. A questão é que a empresa sempre defenderá seus próprios interesses, e esses interesses nem sempre coincidem com o que é melhor para o usuário.

E é aí que entra o papel do Product Designer: o usuário não está na sala para se defender — então alguém precisa estar por ele.
Lembrando sempre: um usuário que tem suas necessidades atendidas — e superadas — é um usuário que fica. É ele quem sustenta o produto. E, no fim das contas, também sustenta o negócio.
O designer, então, caminha sobre uma corda bamba: entre as necessidades do negócio e as do usuário.
Nem todo mundo pode se dar ao luxo de simplesmente dizer "não" para uma decisão com a qual não concorda. Nem sempre o que parece errado de primeira é, de fato, uma má escolha. Às vezes o problema está apenas na perspectiva. Uma mudança de ponto de vista pode revelar que o que parecia inviável para o usuário era, na verdade, só mal comunicado.
Exemplo de perspectiva: Imagine um fluxo de assinatura que exige cartão de crédito para iniciar o trial. A primeira leitura pode ser: “isso prejudica a experiência”. Mas ao conversar com usuários, você descobre que o problema não é a exigência do cartão, mas a falta de transparência sobre a cobrança futura. Com um simples aviso claro antes do trial, você reduz cancelamentos, aumenta a confiança e ainda entrega valor para o negócio.
Ainda assim, independentemente das pressões internas, o papel do PD é sempre pensar: como isso vai impactar o usuário?
E como fazemos isso?
Advocacia pelo usuário não é um ato de fé. É um trabalho fundamentado.
E o que sustenta isso são dados. Dados são incontestáveis.Você pode até ter opiniões, mas elas se tornam mais relevantes quando amparadas por evidência real.
Um caso prático:
Trabalhei em uma startup que oferecia compras a prazo para facilitar o acesso a produtos. Como ainda estavam em estágio inicial, tanto o aplicativo quanto a tecnologia eram bastante limitados e não acompanhavam as necessidades reais do produto e dos usuários. O problema? Os usuários não tinham como saber quanto estavam devendo. Mesmo que quisessem pagar, precisavam entrar em contato com o financeiro para descobrir o valor.
O resultado foi:
Usuários endividados sem perceber.
Gap financeiro crescente na empresa.
Falta de confiança no produto.
Comecei com entrevistas e estudos de rotina. Descobri que:
Os usuários usavam o produto como intermediários de venda.
A margem de lucro vinha apenas da mão de obra, não da revenda dos produtos.
Sem clareza do valor devido, não havia controle de fluxo de caixa.
Uma feature que parecia “detalhe” que ajudaria o dia a dia do usuário era, na verdade, o que separava um negócio funcionando de um negócio prestes a quebrar para eles.
Com esse entendimento, reposicionamos a estratégia. O que antes era só um problema de inadimplência virou uma reestruturação dos OKRs e da estratégia de crescimento.
Em conclusão o trabalho de um Product Designer não é agradar todo mundo.Não é fazer telas bonitas.Não é seguir o briefing ao pé da letra.
É transformar o que você vê, ouve e analisa em decisões que representem o que o usuário realmente precisa — e o que ele ainda nem sabe que precisa.
No fim, ser designer é ter empatia, mas também responsabilidade.
Porque quando o produto não é para o usuário ele se torna trágico para ele.
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